28 de abril de 2021

Proibido Nascer no Paraíso (2021)


As primeiras imagens do documentário de Joana Nin, Proibido Nascer no Paraíso, contemplam a beleza e a história do arquipélago Fernando de Noronha. A medida que se evidencia a força das ondas, a cineasta faz paralelo com gravidez e a semiologia da palavra swell – que pode ser utilizada para descrever tanto um fenômeno no mar quanto evoca o efeito da gravidez no corpo quando ela é conjugada. “O trabalho de parto chega em ondas”, narra. Dali, Joana Nin passa a contar a história de três mulheres que encaram o nascimento na ilha como uma forma de transgressão, já que nos é dito que em Fernando de Noronha é proibido nascer desde 2004.


Em 1929, Virgínia Wolf escrevia que as mulheres ainda naquela época clamavam por sua época de ouro, onde finalmente teriam o que por tanto tempo lhes foi negado – tempo livre, dinheiro e um quarto para si. Liberdade, acima de tudo. Sobre seus desejos e sobre seus corpos. É acachapante que ainda numa época como a nossa, pós anos 2000, com significativa evolução de conhecimento e independência, o governo ainda possa ditar regras sobre tempo, espaço e corpo. Isso é o que interessa a cineasta Joana Nin, que acompanha a luta de três mulheres que apenas querem determinar onde seus filhos nascerão e que tenham os direitos a mesma cidadania que seus genitores.


A beleza de Noronha é natural, mas a política causa perturbação. No documentário, a diretora descobriu que as grávidas de Noronha são obrigadas pelo governo a ir para Recife 12 semanas antes dos seus partos. Na ilha não existe local adequado para qualquer procedimento cirúrgico ou obstétrico. “Os nascimentos foram suspensos para evitar que bebês reivindiquem direitos no futuro. Como as terras são públicas, os terrenos não podem ser oficialmente vendidos. Tudo é disputado”, conta Joana.


O filme, que documenta um período entre 2017 e 2019 na vida de Ione, Harlene e Babalu, fala sobre saúde pública antes da pandemia que entramos em 2020. Fala sobre um tipo de liberdade que é negada. 

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