As primeiras imagens do documentário de Joana Nin, Proibido Nascer no Paraíso, contemplam a beleza e a história do arquipélago Fernando de Noronha. A medida que se evidencia a força das ondas, a cineasta faz paralelo com gravidez e a semiologia da palavra swell – que pode ser utilizada para descrever tanto um fenômeno no mar quanto evoca o efeito da gravidez no corpo quando ela é conjugada. “O trabalho de parto chega em ondas”, narra. Dali, Joana Nin passa a contar a história de três mulheres que encaram o nascimento na ilha como uma forma de transgressão, já que nos é dito que em Fernando de Noronha é proibido nascer desde 2004.
Em 1929, Virgínia Wolf escrevia que
as mulheres ainda naquela época clamavam por sua época de ouro, onde finalmente
teriam o que por tanto tempo lhes foi negado – tempo livre, dinheiro e um
quarto para si. Liberdade, acima de tudo. Sobre seus desejos e sobre seus
corpos. É acachapante que ainda numa época como a nossa, pós anos 2000, com
significativa evolução de conhecimento e independência, o governo ainda possa
ditar regras sobre tempo, espaço e corpo. Isso é o que interessa a cineasta
Joana Nin, que acompanha a luta de três mulheres que apenas querem determinar
onde seus filhos nascerão e que tenham os direitos a mesma cidadania que seus
genitores.
O filme, que documenta um período
entre 2017 e 2019 na vida de Ione, Harlene e Babalu, fala sobre saúde pública
antes da pandemia que entramos em 2020. Fala sobre um tipo de liberdade que é
negada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário