Poltergeist, Canadá /EUA, 2015. Diretor: Gil Kenan. Roteiro: David
Lindsay-Abaire, baseado na história desenvolvida por Steven Spielberg. Elenco: Sam
Rockwell, Rosemarie DeWitt, Kennedi Clements, Saxon Sharbino, Kyle Catlett,
Jane Adams, Susan Heyward, Jared Harris. Duração: 93 minutos.
O fenômeno de
Poltergeist na década de 80, com o perdão do trocadilho, explica-se pela difusão
de grande parte da temática "macabramente açucarada" dos anos 80.
Afinal, não há muitas novidades no filme de Tobe “Spielberg” Hooper (e não há
como não brincar com a mão pesada do produtor, neste caso). As inovações são
escassas porque a época em que o original está inserido não é de inovação, mas
de popularização. Não é surpreendente, portanto, que seu remake não tenha
grandes novidades, pois não é o que se espera, certamente; o problema é sua
total falta de comprometimento com a trama ou "autenticidade" dramática,
algo que faz com que a obra se torne extremamente pedestre e gratuita.
Se a família Freeling
era legítima por nos inserir de forma tão genuína na trama, onde podíamos
sentir cada novo ato de repressão contra seus personagens - desde um brinquedo
infantil atormentando uma criança até as "assustadoras" vibrações das
árvores e sons de trovão -; aqui, no remake, a atenção superficial que o
diretor possui com seus personagens fica escancarado: a adolescente rebelde,
cujo papel na trama é quase inexistente, o menino assustado que despertará
dúvidas quanto ao seu julgamento do que é ilusão ou não, além dos pais
inexpressivos. Sam Rockwell, por exemplo, difere do pai criado por Craig T.
Nelson que foi envolvido numa conspiração que desconhecia e faz tudo para proteger
sua família. Eric Bowen é um desempregado que faz de tudo para conseguir voltar
a se sustentar, e por consequência ser o pai e marido que sua família espera
dele. O seu jeito brincalhão não funciona, contrariando-o e fazendo com que soe
exatamente como alguém desesperado por atenção.
E isso não é algo bem
sucedido por ator ou roteiro. Rockwell parece (pela primeira vez num papel,
pelo que me lembre) desconfortável. Entra no piloto automático que o filme
estabelece. O mesmo pode se dizer de Jared Harris, que, ao contrário da
personagem Beatrice Straight, soa como um charlatão de quinta categoria - não
fugindo nada do estereótipo tão ironizado por David Tennant no remake do
regular A Hora do Espanto, o filme que Poltergeist mais parece se inspirar. Em compensação,
criando sequências diabólicas risíveis (como aquela em que as árvores entram no
quarto do garoto), o filme carece da graça, encanto ou tensão do original.
Observe, por exemplo, o primeiro contato dos paranormais com a família: o
roteiro tenta jogar uma desconfiança que nunca é aprofundada (se aquilo é ou
não é uma fraude) e uma cadeira voando num quarto não possui o mesmo impacto do
quarto magnético anterior.
Na verdade, Poltergeist
não funcionaria nem como um exemplar de gênero "scary housed", já que
ele se autoironiza quando deveria ser dramático: e não dá para defender a
sequência "espirituosa" da família fugindo ao entrar noutra casa
parecida. É um produto arbitrário feito para lucrar com um nome conhecido.
Ausente de qualquer emoção ou tensão, é um filme que certamente assombrará Gil
Kenan pelos próximos meses. Mas pelos motivos errados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário