Batman v Superman: Dawn
of Justice,
EUA, 2016. Direção: Zack Snyder. Roteiro: Chris Terrio e David S. Goyer,
baseado nos personagens de Bob Kane, Bill Finger, Jerry Siegel e Joe Shuster. Elenco:
Ben Affleck, Henry Cavill, Amy Adams, Jesse Eisenberg, Diane Lane, Laurence
Fishburne, Jeremy Irons, Holly Hunter, Gal Gadot, Scoot McNairy, Callan Mulvey,
Tao Okamoto. Duração: 2h31min.
Em determinado momento
de Batman VS Superman: A Origem da Justiça, o homem-morcego está numa luta de
vida/morte contra o homem de aço, quando este fala que aquele precisava saber
que Martha estava em perigo. "Nenhuma Martha irá morrer esta noite",
assume o personagem de Ben Affleck ao se deparar com a chance de salvar um
simulacro de sua própria mãe e enfrentar seus próprios demônios. Uma cena
belíssima que Zack Snyder decide contrapor vergonhosamente com o retorno de um
flashback visualizado no começo do longa-metragem, cujo objetivo era apenas
lembrar o espectador que, sim, Martha também era o nome da mãe de Bruce Wayne. Algo
que não só apontava para o fato do diretor não confiar na capacidade de
raciocínio básico do público, como também denunciava as escolhas inorgânicas
para cimentar a profundidade dramática de sua narrativa.
Assim, Snyder falha em
criar o paralelo que o roteiro tanto se esforça em estabelecer: a batalha entre
homem versus deus, Zeus e Prometeu, noite contra dia, ciência e fé. O
intermediário para isso tudo é a figura humana de Lex Luthor, outra decisão
interessante, mas sabotada pelo propósito de transformar o empresário num sociopata
extremo que faz qualquer coisa para chegar em seu objetivo - neste aspecto, nem
a decisão de tentar aproximar o personagem de um tom mais palpável, quando a
falta da figura paterna é explicitada no clímax do filme, parece menos do que
desconfortável. A montagem de David Brenner, por sua vez, sofre para
estabelecer uma continuidade minimamente aceitável entre ambos os personagens,
criando opostos deslocados e que se confrontam com outros aspectos técnicos do
filme. Num momento, inclusive, Bruce chega a dizer que precisa de 100% de
certeza para embarcar numa batalha contra Superman apenas para, na cena
seguinte, dizer que ele precisa ser detido por ter ficado em seu caminho.
Não que a figura humana
não seja bem apresentada, pois ela é. Ben Affleck é cuidadoso na forma como
encara a seriedade de sua persona - enquanto Christian Bale possuía uma missão
de salvar Gothan da ganância, corrupção e seus opressores, o Batman de Affleck
é um caçador, um homem que precisa de novas missões para continuar vivendo ou,
melhor, sobrevivendo. As referências em sua BatCaverna, portanto, soam sempre bem
fundamentadas - junto ao eficiente design de produção de Patrick Tatopoulos,
nestas cenas, em específico. Da mesma forma, o encontro da destruição de
Metropolis aos olhos de um fúnebre Bruce Wayne estabelece uma lógica muito
maior sobre o confronto entre os dois heróis do que o "miolo" do
filme procura solidificar.
Entretanto, é uma pena que Zack
Snyder construa seu castelo de boas intenções no centro de uma geleira prestes
a derreter. Seu final similar a Star Trek: A Ira de Khan joga um espectro de
morte e sacrifício ao espectador que poderia fomentar discussões acaloradas
sobre o futuro das franquias, caso sua cena final não fosse tão óbvia e, outra
vez, inorgânica; bem como usar algo tão forte como se fosse banal. Ainda que, de
novo, a separação entre Clark Kent e Superman seja belissimamente contraposta
nos seus respectivos funerais.
Porque, no final das
contas, infelizmente, Zack Snyder e equipe parecem se importar basicamente com três coisas:
ambientar o novo Batman, sequências épicas entre os personagens-título no
começo/fim do filme e criar easter eggs para os fãs incondicionais. Não é o
bastante.