29 de janeiro de 2013

Lincoln

Idem, EUA, 2012. Direção: Steven Spielberg. Roteiro: Tony Kushner, baseado no livro de Doris Kearns Goodwin. Elenco: Daniel Day-Lewis, Sally Field, David Strathairn, Joseph Gordon-Levitt, James Spader, Hal Holbrook, Tommy Lee Jones, John Hawkes, Jackie Earle Haley, Bruce McGill, Tim Blake Nelson, Jared Harris, Lee Pace, Peter McRobbie, Gulliver McGrath, Gloria Reuben, David Costabile. Duração: 150 min.

Sou um dos principais defensores de Cavalo de Guerra. Acredito que a visão infantil de Spielberg para a guerra é explorada de forma competente e adequada, além de nos oferecer cenas magníficas neste ponto de vista – onde podemos destacar a corrida de Joey na terra de ninguém ou o período em que a paz reina por alguns minutos porque dois lados divergentes acabam buscando o mesmo ideal: salvar alguém. Todavia, é com extremo pesar que vi o diretor ambicionando o mesmo caráter ingênuo e utópico de Cavalo de Guerra, que nunca, repito, nunca se encaixaria na história de um homem que teve que se render a uma rede de troca de favores para chegar ao fim da escravidão.

Escrito por Tony Kushner (do excepcional Munique), que se sai muitíssimo bem na adaptação do livro de Doris Kearns por transmitir de forma legível leis e pensamentos jurídicos da época, a história gira em torno do 16º Presidente dos Estados Unidos da América, Abraham Lincoln. Em meio a uma época sangrenta sob a guerra da recessão, no meio de uma nação dividida, o presidente busca unir o país, terminar a guerra e abolir a escravidão de uma só vez – com sua 13ª Emenda. Porém, acaba enfrentando suas limitações como chefe de Estado e precisa vencer na votação de um congresso que não está completamente a seu favor.

Sofrendo gravemente de problemas de ritmo, apresentando muitas sequências de forma muito rápida (a batalha inicial, por exemplo, serve apenas para demonstrar um clima sujo em que pessoas estão pisoteando outras), Spielberg tenta a todo o segundo mostrar como o período em que estamos inseridos é algo cruel e desumano. Dentro dessa proposta, ele cria enquadramentos como aquele em que vemos o choro de Elizabeth Keckley, após ser chamada de anormal no congresso americano ou nas vaias histéricas quando apenas são citadas as emancipações racial e feminina. Além disso, contando com uma trilha infantil de John Williams, que se limita a pontuar os instantes emocionais e os “engraçadinhos” sempre de forma excessiva, o filme ainda muda drasticamente de ritmo em momentos pesados. Neste caso, observe como a tensa votação é trocada por uma correria deslocada até o presidente ou quando um sujeito tenta atirar em alguém recolhendo os papéis no chão ou na criança com o uniforme.

Spielberg, além disso, faz-nos esquecer de por que o chamávamos de gênio nas ocasiões em que decide apenas fazer um trabalho burocrático: tanto nos planos centrais que vão nos aproximando dos personagens enquanto discursam quanto nos cortes durantes as conversas. Do mesmo modo, o estima por enquadramentos de perfil só não é maior que Lincoln andando por corredores, sem querer dizer absolutamente nada. Para não falar nas aparições súbitas e deselegantes de personagens tão importantes (aqui vale ressaltar a primeira vez em que Jones é mostrado ou até mesmo a cena inicial com Lincoln). Em contrapartida, Spielberg consegue ser elegante na maneira como expõe a troca de favores, como se fosse algo natural, rotineira – visualize isso no primeiro acordo que é indicado no longa-metragem (“Diga que é uma necessidade militar”). Ou quando exibe Lincoln lendo para seu filho na hora em que a votação acontece – como se ensinasse uma nova geração a ser mais crítica e madura. Da mesma forma, conta com um filme esteticamente impecável, seja na direção de arte, onde vemos o clima desorganizado da Casa Branca, sem a formalidade presidencial atual (manuscritos, documentos e mesas desarrumadas em reuniões, muitos na sala que falam juntos); seja na fotografia de Janusz Kaminski, que mantém um contraste cinzento, quase sem vida, evidenciando a era de preconceitos e de espaços precários.

E se Spielberg ainda tenta mistificar a figura de Lincoln com seus enquadramentos, só não consegue por uma atuação impressionante de Daniel Day-Lewis. Passando em sua curvatura um aspecto quase frágil, mantendo uma voz cansada, arrastada, proferida quase em sussurros, o ator é impecável na construção das particularidades de seu personagem e em soar bastante humano em determinadas ocasiões. Observe, por exemplo, como o seu olhar (sempre tímido e cabisbaixo) parece buscar uma aprovação para suas histórias e ideais ou na maneira como sustenta suas mãos entrelaçadas – quase como um sinal de apoio ao próximo. Quando se sente ansioso, por outro lado, Day-Lewis procura apontar para mãos mais inquietas e nervosas, quase numa espécie de tique. Além do mais, analise a raiva contida do personagem quando ouve o chamarem de ditador.

Mesmo prejudicado pelo roteiro, Gordon-Levitt também consegue transmitir sua busca para fugir do estigma de filho do presidente. É tocante, aliás, a cena em que se reencontra com o pai: seu olhar surpreso e triste quando Lincoln apenas aperta sua mão e pede para ele se retirar da sala. Tommy Lee Jones, ainda, torna-se bastante feliz na composição de seu Thaddeus Stevens. Transmitindo seus valores inquestionáveis, mesmo que, mais uma vez, o roteiro não permita tanto, o ator parece confortável em como assume o papel de uma pessoa de temperamento forte, mas que se ajusta a um belíssimo autocontrole em um ponto chave da trama, que só é prejudicado por um diálogo expositivo em seguida.

Entretanto, Sally Field parece estar disposta a ganhar de qualquer maneira o seu terceiro Oscar – mesmo que para isso soe dramaticamente patética. Assim, a atriz treme e faz cara de choro a cada aparição (“Ele está aqui, está aqui”), não aprofundando em nada sua Mary Todd e, pior, soando deselegante e grosseira na maioria de suas cenas (“Você nunca será amado como ele. O que isso lhe faz sentir?”).

Não tendo coragem nem de mostrar o destino final de Lincoln, mostrando que sua audácia se perdeu há muito tempo, Spielberg mexe com temas “delicados” de um jeito acriançado e inoportuno. E o que poderia render um filme que escancarasse discriminações, mostrasse a nossa sociedade opressora que é, além de terminar com uma desilusão devastadora, acaba sendo vítima de um diretor que cada vez mais perde a ousadia e genialidade que já foram utilizadas para descrevê-lo.
                              

25 de janeiro de 2013

João e Maria: Caçadores de Bruxas

Hansel & Gretel: Witch Hunters, EUA/Alemanha, 2013. Direção: Tommy Wirkola. Roteiro: Tommy Wirkola e Dante Harper. Elenco: Jeremy Renner, Gemma Arterton, Famke Janssen, Pihla Viitala, Ingrid Bolso Berdal, Peter Stormare, Rainer Bock, Thomas Mann e Derek Mears. Duração: 88 min.

Nos últimos anos, a quantidade de filmes que tentaram adaptar contos de fadas para um clima soturno foi assustadora. A qualidade, idem. Obras catastróficas como Espelho, Espelho Meu, Branca de Neve e o Caçador, A Garota da Capa Vermelha, Alice e tanta outras tomaram as telas de assalto; sim, roubando nosso dinheiro e paciência para tramas grotescas e absurdas. Assim, todo ano que surge uma nova, como o caso deste João e Maria: Caçadores de Bruxas, uma nova apreensão se instala. Tommy Wirkola até não é dono de sequências tão bisonhas quanto as de seus companheiros de gênero, mas também nunca se mostra inspirado ou tenta fugir do convencional.

Escrito por Tommy Wirkola e Dante Harper, quinze anos depois de um traumático evento ocorrido em uma casa feita de doces que era controlado por uma bruxa má, dois irmãos (que se chamam Hansel e Gretel no conto original) tornaram-se caçadores de bruxas que viajam pelo mundo identificando e matando os tais seres. Neste percurso, ambos chegam a uma pequena cidade onde já desapareceram quase doze crianças e se veem inseridos em uma trama (para não variar!) que não estão acostumados.

Não sabendo se investirá em uma trama mais madura e assustadora ou apenas tratará de evidenciar diálogos que já conhecemos há séculos (“Aqui só há morte”, “Bruxa boa é bruxa morta”, “Só pode ser brincadeira”, “Atire no que se mover”), Wirkola transparece bastante sua indecisão já em sua primeira cena. Desta forma, captamos bem o ambiente assustador em que os dois irmãos chegam – uma casa de doces envolta em uma escuridão intimidante e que só chama a atenção pela fome em que eles se encontram –, mas deprimimos, quando notamos as piadinhas deslocadas e tolas que começam a entrar na narrativa (“Está quente agora?”). Seguindo a lógica, também não fica difícil de adivinhar cada passo que será tomado e observar que cada um (tristemente) terá seu interesse romântico para atrasar mais ainda uma trama que poderia ser contada em um curta-metragem.

Ao mesmo tempo, o diretor parece entender que cenas de ação só apontam para cortes rápidos e inúmeras metralhadoras, além de não saber nem situar adequadamente seus personagens em cena durante as batalhas (note a posição de Ben, por exemplo). Do mesmo modo, o 3D, aparentemente, apenas serve para jogar objetos em direção da plateia. Em contrapartida, Wirkola sobra em eficiência na elipse ocorrida nos créditos iniciais ou na boa sequência em que um ogro esmaga uma cabeça com as mãos e pisa noutra com os pés. Ou até mesmo na história dos pais ao calor do fogo.

E se Famke Janssen está risível no papel de antagonista, Renner e Arterton inauguram uma nova categoria neste tipo de obra: protagonistas menos carismáticos e competentes que um ogro – pois, visivelmente, é o único personagem que possui algum conflito interno.

João e Maria: Caçadores de Bruxas até tenta fugir um pouco do tom disforme e embarcar numa atmosfera que não se leva a sério (afinal, um toca discos e metralhadoras automáticas surgem na trama!), mas o máximo que acaba soando é como algo que Zeca Pires faria se tivesse um grande orçamento.
                                 

24 de janeiro de 2013

Django Livre

Django Unchained, EUA, 2012. Direção: Quentin Tarantino. Roteiro: Quentin Tarantino. Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, James Remar, Walton Goggins, Dennis Christopher, Don Johnson, Nichole Galicia. Duração: 165 min.

Pulp Fiction, Bastardos Inglórios, Cães de Aluguel, Kill Bill, À Prova de Morte, Taratino sempre foi respeitado e admirado pela quantidade de sangue jorrando em tela e por inúmeras gags que criava a partir de temas incomuns e irreverentes. Fez seu nome em chacinas sisudas que, se nunca soavam absurdas demais, era justamente pela natureza estranha do próprio. Em Django Livre, o diretor até busca evidenciar as qualidades que seus fãs sempre procuram, mas acaba saindo algo muito mais infantilóide e grotesco do que o sarcasmo brilhante de antigamente.

Escrito e dirigido por Quentin Tarantino, a história acompanha um caçador de recompensas alemão, Dr. King Schultz (Waltz), que está em busca de três irmãos assassinos e conta com a ajuda de um escravo, Django (Foxx), para reconhecê-los. O doutor promete a libertação de Django se este ajudá-lo, além de uma parte do prêmio. Logo, ambos viram parceiros e vivem  matando os criminosos mais perigosos do sul dos EUA. Ao mesmo tempo, os dois procuram o paradeiro da mulher de Django, o que os leva até a fazenda de Calvin Candie (DiCaprio)...

... que é o lugar onde ocorrerá a “ação” desenfreada. Claro que neste meio tempo iremos ver situações surreais e gracejos espalhados pela narrativa, mas geralmente acaba soando como se estivéssemos vendo um remake de A Vida de Brian. Note, por exemplo, a cena da conversa entre os homens encapuzados (que aparece como uma espécie de Ku Klux Klan), onde os “assassinos” param a ação por se sentirem sufocados pelos capuzes. Da mesma forma, Tarantino só parece interessado no choque: seja no figurino destoante de Foxx em determinada cena, nas mortes (como não citar a dos cachorros?) ou nos zooms de aproximação.

E se noutros filmes Sally Menke conseguia esclarecer a visão de Tarantino de uma forma curiosa e orgânica, o mesmo não pode se dizer de Fred Raskin – responsável por um dos fatores mais críticos do longa-metragem. Neste caso, observe a forma como somos introduzidos ao passado dos personagens (quase sempre após alguém ser visto pensando sobre o acontecimento) ou como soa completamente desconexo a maneira como “Hilde” apresenta-se. Aliás, provavelmente, o único momento em que Raskin acerta é no momento em que DiCaprio discorre sobre negros excepcionais, intercalando com ações de Django.

Em contrapartida, Tarantino mostra elegância na maneira como o sangue atinge as flores ou no modo em que ele confirma seu protagonista como uma espécie de salvador – a cena do chicote é um belo símbolo. Porém, ao mesmo tempo, sai-se extremamente nonsense nas aparições de Broomhilda durante o percurso. Todavia, se o diretor parece perdido em como almeja guiar seu filme, o elenco praticamente afasta qualquer dúvida que o longa forneça.

E se Jamie Foxx não possui expressão alguma na pele de Django, DiCaprio e Jackson são bastante eficientes como antagonistas. Desde o gestual físico até a mentalidade social, ambos mostram suas desumanidades de forma certeira. Vale ressaltar aqui o rosto inerte e interessado de DiCaprio durante uma morte ou a explosão durante a negociação dos escravos. Gostaria também de dar um adendo, se me permitirem, a uma decisão narrativa de Tarantino: por que mostrar a conversa entre DiCaprio e Jackson em vez de deixar o espectador tão inseguro e tenso quanto Foxx e Waltz? Falando nele, é Waltz que é o grande destaque do filme e carrega boa parte dele nas costas. Criando uma figura com um timing genial (“Não consegui resistir!”, “Está meio tenso lá fora!” ou “Agora é a hora de chamar o capitão!”), o ator parece se divertir a cada frase que pronuncia. Não só em momentos espirituosos, mas, em cenas dramáticas, também é hábil – aqui, analise o olhar doloroso e assustado de Waltz quando este vê uma morte bastante bárbara.

No fim, chega a ser conveniente, muito mais que a aparição de Tarantino na sequência final, quando Jamie Foxx indaga Waltz: “Espera aí, você ganha prêmios por matar pessoas?”. Pois, assim como em Bastardos Inglórios – no qual o personagem de Pitt serviu como um alter ego do diretor -, ecoa como uma sentença bem pertinente à carreira de Quentin Tarantino. Mesmo que em seu caso não sejam pessoas, mas personagens.

                                 

23 de janeiro de 2013

Amor

Amour, França/Alemanha/Austria, 2012. Direção: Michael Haneke. Roteiro: Michael Haneke. Elenco: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, William Shimell, Alexandre Tharaud, Carole Franck, Dinara Drukarova, Rita Blanco e Ramón Agirre. Duração: 127 min.

Dono de uma (invejável) filmografia, que envolve obras como A Fita Branca, as duas versões de Violência Gratuita, Caché e A Professora de Piano, Michael Haneke não é um diretor convencional. Abordando seus longas sempre com um invariável pessimismo, onde o cinema não surge como um escape da realidade, pelo contrário, pode desenvolver um sentimento ainda mais perverso, sua assinatura é mais uma vez reconhecida em Amor. Em seu novo filme, o diretor discorre sobre o amor de uma maneira intrigante: até onde o ser humano se sacrifica por outro.

Escrito e dirigido pelo alemão, a história acompanha um casal de idosos, Georges (Trintignant) e Anne (Riva), que se veem em uma situação inteiramente nova em suas vidas: certo dia, Anne sofre um derrame que paralisa o lado direito de seu corpo. Cabe, então, a Georges a tarefa de providenciar os cuidados para sua esposa até o imaginável destino.

Estabelecendo os seus protagonistas de forma curiosa no primeiro ato, apresentando-os no meio de uma plateia que espera para ver uma peça, Haneke é rápido em introduzir esse problema na vida do casal e, ao mesmo tempo, explorar as sequelas do derrame da pessoa que mais se doava na relação. É notável, aliás, como a mesa bem cuidada do começo e a atenção de Anne para as pequenas coisas são trocadas gradualmente por uma cozinha suja, poeirenta, tomada por farelos e taças de vinhos não lavadas. Do mesmo modo, o diretor é sábio em não “poluir” sonoramente a narrativa – assim, depositando muito mais tensão em cenas como a de Georges escutando a água da torneira sendo desligada.

O silêncio, além do mais, é bem condizente com a dolorosa trama criada. Uma vez que seus personagens estão pertos, mas não da maneira íntima de outrora, e estão em volta do espectro da morte (“Como foi o enterro?”), Haneke trata de priorizar as expressões e reações a cada etapa sofrida. Assim sendo, observe como Anne apoia-se com o seu único braço com vida no seu marido ou em como os papéis se invertem (se ela era a pessoa mais preocupada da casa – não dormindo de ansiedade –, o papel agora é de Georges que reflete se vai conseguir passar no “teste”). A segura direção, ainda, cria uma atmosfera alucinante que culmina na fortíssima cena do sonho de Georges, em que o personagem se vê sufocado por uma mão direita.

Jean-Louis Trintignant é admirável, aliás, na maneira como ele demonstra essa mudança de papel na relação e o quanto a situação é penosa aos dois – cabe referenciar a cena em que ele pergunta para a esposa o que ela faria no lugar dele e na impaciência que o atinge quando tenta dar comida para Anne. Contudo, Emmanuelle Riva é o grande destaque da narrativa. Evidenciando minuciosamente cada sentimento de dor (“Dói. Dói. Dói!”), a atriz é excepcional ao denunciar a sua impotência perante a doença. E se ela tenta parecer mais forte do que aparentemente está, como mostra as cenas dela tentando andar sozinha, são os momentos em que ela urina dormindo e na agonia em não conseguir balbuciar mais do que uma ou outra palavra que soam mais intensos. Sua maneira infantil – fralda e babador – se intensifica mais do que ela pode aguentar.

O que transforma a sequência final, no belo e triste discurso de Georges, uma forma de amor para Haneke. Um amor que sacrifica nosso bem estar para o de outro, um amor que ultrapassa limites, um amor que nos faz abandonar um ideal que antes possuíamos; algo que revele o melhor e o pior de nós.

                                     

22 de janeiro de 2013

Mestre, O

The Master, EUA, 2012. Direção: Paul Thomas Anderson. Roteiro: Paul Thomas Anderson. Elenco: Joaquin Phoenix, Phillip Seymour Hoffman, Amy Adams, Laura Dern, Jesse Plemons, Ambyr Childers, Rami Malek e Madisen Beaty. Duração: 144 min.

Meu avô era alcoólatra. Perdeu tudo na vida. Família, dinheiro, negócio e amor. Apenas um de seus três filhos ainda o visitava e sempre vi uma sombra de felicidade quando o via comigo – por estar perto de um de seus netos. Eu o amava profundamente. Aliás, penso que era um dos familiares a quem eu mais era devoto. Apesar de também não o visitar com a frequência que deveria, porque achava doloroso algumas de suas condições, estava sempre com ele em meu coração. Ele morreu no ano passado. Reviu a única mulher que amou durante toda a sua vida – minha avó, claro – somente quando estava definhando por cirrose em uma cama de hospital. Costumo pensar que, agarrado a mão de minha avó, ele pensou no dia em que ela o abandonou, dando-lhe uma escolha: a bebida ou ela. Na ocasião, meu avô preferiu a bebida. A única que ficou com ele até o fim, mas que prejudicou toda a sua existência.

Lembrei-me disso, com lágrimas que saíam de meu corpo como se precisassem dar um último adeus, numa cena da nova obra-prima de Paul Thomas Anderson: O Mestre. Uma cena que marcava a dor de uma pessoa sem rumo, afogada pela bebida, relembrando o passado tão cruel, na frente de alguém que deu o braço para ela se levantar. “Aqui é um lugar em que as lembranças não estão convidadas”, diz Lancaster Dodd.

Escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson, a história acompanha o problemático Freddie Quell, que, após a guerra, volta para a casa e acaba conhecendo uma pessoa conhecida por “O Mestre”. Entrando para um tipo de culto chamado de “A Causa”, o jovem começa a rever os conceitos que tem sobre a vida e tenta (re) estabilizar-se na sociedade.

Explorando o lado humano de seus personagens desde o seu primeiro ato (“Sou muitas coisas, mas acima de tudo um homem!”), sem preocupar-se muito em transmitir mais afundo as ideias da seita, Anderson é notável ao estabelecer uma coesão narrativa que resulta em duas cenas curiosíssimas: na primeira, Freddie correndo por um campo sem fim para depois, em cima de uma moto, percorrer os seus sonhos (agora com alguma sustentação); e, na segunda, os cumprimentos de um encantador Dodd são substituídos para um reconhecido Freddie na convenção de Phoenix. Além disso, o diretor trata sempre em focalizar Quell deslocado nos lugares em que segue o mestre – aliás, note o olhar de admiração sempre presente ou como a primeira vez em que vemos um sorriso real do personagem é durante um discurso de Dodd.

Do mesmo modo, observe a imponência do mestre frente ao seu culto: um perfeito exemplo é quando a polícia chega para levá-lo e seus discípulos o cercam como verdadeiros defensores da causa ou até mesmo nas luxuosas poltronas que demonstram sempre o aspecto de rei. Ao mesmo tempo, como se não bastasse, Anderson também é perfeito na abordagem dos dois opostos que são Freddie Quell e Lancaster Dodd. E basta visualizarmos isso: desde o primeiro levando os pertences do segundo, andando sempre atrás (nunca ao lado ou à frente) de Dodd, até a incrível cena em que ambos são mostrados lado a lado nas celas de uma prisão.

Entretanto, os maiores benefícios do filme ficam por conta do domínio de preparação de elenco de Anderson e de seu roteiro. Pois, enquanto somos agraciados com frases tão pertinentes aos momentos vividos, como “Lutamos contra o dia e vencemos”, Phillip Seymour Hoffman e Joaquin Phoenix dominam a tela desde o primeiro minuto de projeção. Criando uma pessoa que transparece bondade, genuinidade e segurança, Hoffman ainda é soberbo ao explorar os conflitos de Dodd com um temperamento explosivo, trazendo ainda mais honestidade ao personagem. Analise, por exemplo, suas reações quando se vê confrontado por seus pensamentos – não importando se é um simples cético ou a mais fiel devota. Além do mais, é tocante a maneira como ele se porta diante de Freddie: o olhar ressentido que dá quando este volta, a sua comoção frente ao passado do amigo e a inclassificável cena do choro contido quando começa a cantar a música que Freddie cantou na primeira conversa dos dois.

E se Hoffman prova mais uma vez que é um dos melhores atores vivos, Joaquin Phoenix não fica atrás. Pelo contrário, com seu Freddie Quell cria uma figura extremamente comovente e palpável. Denotando ares infantis ao personagem, indicando uma voz arrastada, quase receosa com o que irá ser dito e dono de um temperamento difícil, Phoenix passa por uma verdadeira transformação durante a narrativa. Se em um momento parece uma criança apontando para os seios de uma garota como se estivesse brincando, noutro, parece uma das pessoas mais racionais do planeta ao sentir qual o momento certo de seguir em frente. E não apenas a maneira como exibe as sequelas da bebida, mas o seu choro na sequência final ou na cena em que suas têmporas parecem saltar, evidenciam a sua excelência. “É o rapaz mais corajoso que já vi”. Ao passo que Amy Adams é esforçada em passar a grande mulher que é vista como a sombra e confidente de Dodd.

Gostaria de encontrar com o meu avô novamente. Ter uma oportunidade, mesmo que em sonho, como Freddie experimentou. Fazer as perguntas que eu sempre quis fazer e as assisti no interrogatório de Dodd à Freddie – desde já uma das melhores sequências que já vi em um filme. Apagar o passado, convidá-lo a novas lembranças e cantar aquela mesma canção entoada por dois atores, que para sempre estarão em minha memória: “Eu quero lhe levar em um barco lento para a China. Onde estaremos a sós. E onde eu poderei lhe manter em meus braços para sempre”.

                                     

15 de janeiro de 2013

Som ao Redor, O

Idem, Brasil, 2012. Direção: Kleber Mendonça Filho. Roteiro: Kleber Mendonça Filho. Elenco: Gustavo Jahn, Maeve Jinkings, Irandhir Santos, Irma Brown, Sebastião Formiga, W. J. Solha, Lula Terra, Yuri Holanda, Clébia Souza, Maria Luiza Tavares e Mauricéia Conceição. Duração: 131 min.

É fácil enxergar O Som ao Redor como um retrato social pertinente e uma obra sensorial. Após um curta extremamente inteligente e ideológico sobre a cidade em que nasceu, em Recife Frio, Kleber Mendonça Filho já mostrava sua visão social dos costumes brasileiros e nossas piores neuras. Agora é traçando o domínio da classe média alta aos mais pobres, no seu novo filme, que ele explora nossas constantes aflições com o que nos cerca e oprime seus personagens ao mais alto grau de loucura.

Escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho, o filme tem início numa comunidade de classe média localizada na zona sul de Recife. Ao mesmo tempo em que os personagens daquela localidade precisam lidar com seus próprios problemas, surge uma pequena milícia que promete trazer segurança e tranquilidade para aquelas pessoas.

Porém, num lugar que é tomado por sons dos mais variados tipos – soldagens, batidas de carros, músicas altas, latidos de cães –, trazendo uma sensação absurdamente incômoda, a clamada tranquilidade surge apenas como um sonho distante da realidade. Não à toa, o momento em que Maeve Jinkings consegue dormir e encontrar a sua paz sem o latido do cachorro fica sendo o único em que ouvimos calmamente o som das árvores ao redor do apartamento. O roteiro ainda se reserva a uma forte crítica social denunciando o capitalismo selvagem que cerca aqueles indivíduos, sempre aspirando a mais do que realmente necessitam (cabe destacar a cena em que Bia paga 4 reais pela água e 70 pela droga), e encontra respaldo na apropriada direção de Mendonça (o momento no qual a personagem é agredida por ter comprado uma televisão maior do que uma vizinha ou em esbanjantes aulas de mandarim são claros exemplos).

O diretor, ainda, não poupa elegância na maneira como demonstra as discrepâncias entre os dois mundos (como não frisar os grandes complexos ofuscando as áreas mais miseráveis da cidade?) e nos belos planos que realiza – meu favorito, provavelmente, é a fusão feita de um grande grupo de prédios para um de cervejas. Observe também como uma criança afortunada escuta um mp3 e sua mãe tenta comprar um belo apartamento enquanto olha para baixo e vê um garoto jogando bola em uma área muito mais pobre. Além disso, não se pode deixar de mencionar a cena em que dois personagens entram em um cinema abandonado e, envolto naquela atmosfera, o diretor ainda se dá o luxo de realizar um plano holandês para ressaltar o destoante local que ingressaram.

Beneficiando-se de seus atores, que dão ainda mais força para sua mensagem, Mendonça aproveita para “brincar” com a linguagem – trazendo momentos como a de uma irreverente masturbação ou um incomum uso de maconha. Todos os personagens, aliás, parecem mais profundos por sua visível humanidade. Não vemos papéis, mas seres humanos – o que aponta para um trabalho fantástico na preparação de elenco. Pois soando naturais o tempo todo, as cenas em que João, Francisco e Clodoaldo dialogam parecem cenas cotidianas, sem nenhum tipo de dramatização excessiva ou novelesca – o que poderá, inclusive, passar uma desconfiança para o público brasileiro desacostumado a isso.

Diferente do sonho da filha de Bia, em que sequestradores não param de invadir as propriedades que tentam os esconder e levam todos os seus objetos materiais, a mensagem de Mendonça é muito mais que um sonho assustado ou algo irresponsável. O Som ao Redor nos remete a nossos problemas como indivíduos em comprar mais do que precisamos, fugir do que não nos atinge e clamar por uma falsa tranquilidade momentânea. Para Mendonça, se não formos forte o bastante para ver o lado do mais fraco e pararmos de olhar apenas para nós mesmos, algum dia alguém chegará para cobrar essa dívida.
                                  
                                    

14 de janeiro de 2013

Viagem, A


Cloud Atlas, Alemanha/EUA, 2012. Direção: Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski. Roteiro: Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski, baseado no livro de David Mitchell. Elenco: Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Jim Sturgess, Doona Bae, Ben Whishaw, Keith David, James D’Arcy, Susan Sarandon e Hugh Grant. Duração: 172 min.

Eu geralmente levo um caderno de anotações para registrar precisamente os momentos que irei colocar no papel futuramente em uma crítica. Absorver o que cada instante deseja passar ou as decisões narrativas do diretor, além de, durante este percurso, assinalar alguns diálogos que meu cérebro certamente não descreveria tão fielmente em um texto. Tamanha foi minha surpresa, portanto, quando em A Viagem deixei meu bloco de anotações abandonado em um canto, num determinado momento do longa-metragem, apenas para participar do que estava presenciando. Poder respirar o que estava sendo apresentado em tela sem nenhum tipo de distração – nem o meu próprio trabalho.

Peço desculpas, logo, por talvez não conseguir transmitir a experiência enriquecedora que A Viagem pode provocar. Não por sua (intrigante e interessante) maquiagem ou por suas atuações ou pela direção comprometida de três pessoas ou, até mesmo, pela exemplar ficção científica que nos é apresentada. Não. É a mensagem do filme que torna-se o fator mais importante conforme a narrativa vai sucedendo, que, mesmo com erros nítidos (como investir em piadinhas deslocadas em determinado período da trama), surge sempre de uma maneira clara e apaixonante.

Escrito pelos mesmos diretores do filme, Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski, a história gira em torno das almas de várias pessoas que vagam através dos tempos. Constitui-se em seis histórias diferentes, ocorridas em épocas e países distintos, que estão de alguma forma interligadas. No passado, acompanhamos as histórias de um escravo que tenta ser livre e procura a ajuda de um advogado; um jovem compositor que escreve uma histórica sinfonia e uma jornalista que tenta revelar a verdade acerca de um reator nuclear. Já no presente, é nos relatado a história de um editor que se vê numa grande rede de problemas e acaba parando em um asilo. Enquanto em dois futuros diferentes, seguimos um clone que tem sua vida mudada de forma drástica e uma realidade pós-apocalíptica que retorna a humanidade para uma época de selvas, fé e espíritos desencarnados.

Com essa história complexa em mente, fica ainda mais admirável o trabalho do montador Alexander Berne e as ambientações díspares criadas pelos eficientes irmãos Wachowski e Tom Tykwer. Uma vez que, oferecendo um irretocável design de produção e uma fotografia que contrasta bem cada momento, os diretores encontram tempo (que não falta) para sua maior ambição: a crítica ao preconceito. Não há um comodismo de época por parte de seus realizadores e muito menos uma crítica deslocada, pois em cada minuto da narrativa somos lembrados de nossos problemas como seres humanos em enxergar o próximo como alguém igual. “A separação é apenas uma ilusão”. Aliás, o filme insiste tão forte neste ponto dramático que algumas situações acabam surgindo de forma forçada e gerando uma graça involuntária – como a cena deslocada em que uma das personagens de Doona Bae golpeia alguém na cabeça e afirma: “Não me chame de imigrante”. Algo que fica ainda pior quando a cena espirituosa é trocada por uma muito mais forte: alguém sendo incinerado após cumprir suas funções trabalhistas.

Todavia, isso é algo muito mais pontual e não prejudica as quase três horas de filme. Seja nos sussurros de almas que ouvimos enquanto um escravo é chicoteado, quando uma mulher reivindica seus direitos à mesa num passado obscuro, no momento em que apenas a tragédia alcança o estrelato para um escritor ou na arte como sinônimo de liberdade – os diretores sempre mantêm a força de sua história. É uma decisão inteligentíssima, além disso, utilizar os pontos em comum das tramas em cada momento histórico – basta notar, por exemplo, o futuro em que naves são tão presentes quanto as selvas e a sobrevivência brutal para as classes mais desfavorecidas. Melhor, observe como as estradas que são percorridas pelos personagens destoam dos carros utilizados: o antigo percorrendo o novo. Ainda que as convenções que os diretores queiram quebrar sejam muitas, como determinado personagem afirma durante o filme, a verossimilhança com nossa própria realidade ou passado assusta e cria algo impossível de não acreditar.

Assim, a histórica influência dos estrangeiros catequizando os mais “fracos” com sua tecnologia ou a mesma forma ditatorial e preconceito contra as minorias que retornam no futuro, encontram escopo social. Do mesmo modo, “Não podemos ter divisórias”, “Não me sujeitarei a tal ato criminoso”, “Um puro-sangue foi simpático comigo”, “Eles nos alimentam com nós mesmos” e “O fraco é a carne que o mais forte come” surgem fortíssimas em várias ocasiões. Como se não fosse o bastante, os diretores também proporcionam momentos narrativos excepcionais – particularmente, o meu favorito é a fusão feita de um carro sendo jogado da pista, água invadindo duas épocas, e culminando em um cemitério de mortos por meio de uma faísca. E se ninguém se destaca num elenco cheio de boas interpretações, é a trilha de Reinhold Heil, Johnny Klimek e Tom Tykwer que deixa uma marca gigantesca em seus traços de melancolia.

É uma pena, consequentemente, que A Viagem possivelmente tenha apenas uma aclamação póstuma, inclusive, sendo injustamente posto em várias listas de piores filmes lançados em 2012. Porque, mesmo sendo um filme que tenha falhas pontuais e que poderia harmonizar momentos mais emocionais, é uma obra que será comentada daqui a alguns anos como uma das grandes ficções-científicas de nosso tempo. E, talvez, quando estivermos ao redor de uma fogueira com nossos netos, contaremos o tempo em que presenciamos esta história.

                                    

9 de janeiro de 2013

Jack Reacher - O Último Tiro

Jack Reacher, EUA, 2012. Direção: Christopher McQuarrie. Roteiro: Christopher McQuarrie, baseado no livro de Lee Child. Elenco: Tom Cruise, Rosamund Pike, Richard Jenkins, Werner Herzog, Robert Duvall, David Oyelowo, Jai Courtney e Joseph Sikora. Duração: 130 min.

Jack Reacher é como qualquer outro filme de ação do gênero: um ex-militar inteligentíssimo e que em determinado momento terá que inocentar seu próprio nome, extremamente habilidoso com armas e em combate físico, além de ser envolvido em uma complexa conspiração. Contudo, é uma pena que o filme acabe empalidecendo diante do próprio gênero que segue a cartilha, não se adaptando a nenhuma vertente – já que não investe nem na violência frenética, no entretenimento despretensioso ou numa trama mais ousada – e criando um filme/personagem sem substância ou qualquer novidade.

E isso não seria possível sem o esforço do medíocre Christopher McQuarrie, responsável pelos roteiros de filmes como O Turista e Operação Valquíria, pois a principal falha de Jack Reacher reside justamente em seu roteiro. Guiando-se, principalmente no primeiro ato, por diálogos rápidos e burocráticos (“Você só vai achá-lo se ele quiser ser achado”), assim como exibe uma adoração por estereótipos, o diretor/roteirista não consegue dar nenhum tipo de aprofundamento nem em seu principal personagem. Assim, fica complicadíssimo mostrarmos entendimento sobre o quanto aquela figura pode ser temida ou o quão imbatível ela seria. Além do mais, McQuarrie decide realizar o mesmo com o restante de seus personagens, chegando a elaborar uma risível cena em que o vilão evidencia sua “monstruosidade” sugerindo que outra pessoa coma seus próprios dedos.

Por outro lado, o diretor consegue fornecer muito mais sabedoria (ainda que precária) na condução de suas sequências – note, por exemplo, a tensão que a primeira cena exala ao abordar a situação em primeira pessoa, observando as vítimas do ponto de vista do atirador; um fator determinante para outra cena, em seguida, ecoar ainda mais surpreendente: a percepção das vítimas analisada, quando a defensora procura o lado humano. Do mesmo modo, a “vítima” virando o ameaçador em outra ocasião também se mostra bastante contundente com o tipo de abordagem que era necessitada.

Tom Cruise, aliás, encontra a maior virtude e o maior problema de seu personagem em si mesmo: seu carisma. Porque, obviamente, não é preciso de muita energia para achar o protagonista alguém simpático, porém, ao mesmo tempo, também não soa natural o anti-heroísmo de Reacher. E se Herzog é limitado pelo que o roteiro faz com o antagonista, Duvall transmite a segurança de um timing invejável em todas as suas cenas (“Correr sempre parece funcionar!”).

No fim, Jack Reacher é somente mais um filme de ação que é divertido em momentos e sabotado em outros por seus covardes roteiristas. Apesar de alcançar um controle muito melhor do que tem em mãos a partir da metade do segundo ato, McQuarrie acaba nunca encontrando a solidez que ambiciona. E se as passagens pela cicatriz de Reacher deveriam fornecer uma sensação ansiosa que clamaria por mais filmes, assinala apenas para uma apreensão do que está por vir.