26 de agosto de 2011

Planeta dos Macacos: A Origem (EUA, 2011):


Existe um certo ar de urgência em “Planeta dos Macacos: A Origem”, algo ameaçador e dolorosamente cruel: o maltrato de animais. De certa forma, o apelo do filme pode lembrar o de 68 protagonizado por Heston que também possuia uma crítica social mordaz – ali, quanto aos sistemas políticos e descriminalização -, mas no filme de Rupert Wyatt o alvo é outro. E essa, talvez, seja uma das únicas semelhanças entre os dois filmes, sem contar as referências obvias. O filme de Wyatt guia-se por um perigoso caminho de investir em uma trama que não lembra muito o original e como chegará lá, mas que prioriza acima de tudo seu principal personagem: César.


Escrito por Rick Jaffa e Amanda Silver, baseado no romance francês “La planète des singes”, a nova versão passa-se em San Francisco, onde Will Rodman (James Franco) é um cientista que trabalha em um laboratório que são realizadas experiências com macacos. Ele está interessado em descobrir novos medicamentos para a cura do mal de Alzheimer, já que seu pai, Charles (John Lithgow), sofre da doença. É quando um dos macacos consegue escapar e provocar vários estragos e sua pesquisa é cancelada que Will leva para casa algumas amostras do medicamento, aplicando-as no próprio pai, e um filhote de macaco de uma das cobaias.


O pai de Will, não apenas se recupera como tem a memória melhorada, graças ao medicamento. Enquanto o filhote, que recebe o nome de César, demonstra ter inteligência fora do comum, já que recebeu geneticamente os medicamentos aplicados na mãe. O trio leva uma vida tranquila, até que, anos mais tarde, o remédio para de funcionar em Charles e, em uma tentativa de defendê-lo, César ataca um vizinho. O macaco é então engaiolado, onde passa a ter contato com outros símios e, cada vez mais, se revolta com a situação.


Investindo na situação dolorosa em que seus personagens vivem desde seu primeiro ato, Wyatt é cuidadoso ao estabelecer os protagonistas de sua narrativa – desde a doença de Charles até a chegada do pequeno César e suas consequências na vida da familia. O desenvolvimento de César é muito bem demonstrado através da boa montagem de Conrad Buff IV e Mark Goldblatt que aproveita o ambiente de sequóias em que o animal é levado no longa para mostrar o crescimento do personagem em três anos – num excelente uso de elipses.

O impressionante Andy Serkis com seu olhar dócil e assustado. 

César, aliás, é o grande destaque do filme e Wyatt é inteligente ao investir quase que por completo em um aprofundamento no personagem. Andy Serkis é brilhante ao fornecer por meio de olhares todo o temperamento de seu personagem: seu aspecto dócil visto no começo do longa, seu jeito brincalhão e emocional, passando pelo seu estado assustado ao perceber seus erros e chegar ao cativeiro, até seu olhar experiente e fechado com os humanos – inclusive seu próprio “dono”. Impressiona, Serkis urrando contra o cachorro no parque e estabelecendo uma reação que ainda não havíamos visto em seu personagem: não querer ser tratado como um animal de estimação.


Infelizmente, Wyatt parece querer privar esse aprofundamento em César e estabelece o restante do elenco apenas como peças sacrificáveis em um jogo de xadrez. Começando com o personagem de David Oyelowo representando a aura capitalista sem remorso, Tom Felton como um humano maligno e sem alma, Cox como alguém que parece nunca querer saber o que está acontecendo e Freida Pinto totalmente deslocada na trama. Se isso não fosse o bastante, até Franco é apenas competente em seu papel, não criando nenhum tipo de vínculo paternal com César – algo que apenas mostra que se fosse qualquer outra pessoa carinhosa cuidando do animal, a relação seria igual ou melhor. Sobra pra John Lithgow criar um personagem que é apenas notado graças ao talento do ator, desenvolvendo desde a doença até sua aparente cura.


Criando um roteiro óbvio, mas pontualmente inteligente, Rick Jaffa e Amanda Silver conseguem estabelecer o aprofundamento de César e a crítica social que o filme se guia de forma competente, apenas falhando na construção do vírus (que mais parece ter saído de um roteiro da franquia “Resident Evil”) e nos referenciais que muitas vezes apenas parecem ter sido jogados na trama para estabelecer-se como um “pré-original” que nunca acontece. Claro que é notável situações como César brincando com uma réplica da estátua da liberdade, ou no cativeiro, em que o personagem de Felton berra “it's a mad house! A mad house!”, ou na missão de Heston indo pra Marte, entre outras referências. O grande problema é que isso nunca passa de uma tentativa de estabelecer semelhanças com o original e apenas jogadas de forma desnecessária. Um exemplo é a cena pós-créditos que salienta ainda mais a comparação da bizarra droga com o universo da franquia “Resident Evil”, como se apenas aquela cena demonstrasse o que viria num futuro próximo.


Ainda que seja um filme tecnicamente impecável, os efeitos especiais e o realismo dos macacos são impressionantes e serão possivelmente concorrentes ao Oscar, o filme guia-se pelo mesmo aspecto que outras obras depressivas de 2011 guiaram-se e falharam: a dor de estar numa sociedade cruel. Nunca fornecendo grandes respostas ao tema qual baseou-se, “Planeta dos Macacos: A Origem” não sofre apenas da péssima tradução de título, mas também do uso de estereótipos para definir a humanidade – sim, a mesma saída encontrada por Von Trier no cretino “Melancolia”, como se o fato da humanidade ser cruel, burra ou “má” (referenciando a frase patética de Dunst no filme do diretor dinamarquês) é o bastante para querermos que ela chegue ao fim de alguma forma. Oras, chega a ser irônico que um filme a favor da vida trague uma mensagem conflitante dessas em seu final.

(3 estrelas em 5)

Amor a Toda Prova (EUA, 2011):


Em determinado momento de "Amor a toda prova", a linda Emma Stone olha para o talentoso Ryan Gosling sem camisa e afirma exasperada: "Meu deus, você está brincando, isso parece Photoshop. Depois disso?! Eu não tiro a minha roupa!". Apenas essa cena já mostra muito do novo filme dos diretores Glenn Ficarra e John Requa, ao mesmo tempo em que o sex appeal do ator é usado de todas as formas possíveis, a narrativa é incrivelmente natural e divertida.


Escrito por Dan Fogelman (roteirista de Carros e Enrolados), a trama gira em torno de Cal Weaver (Steve Carell), um quarentão que tem a vida dos sonhos: bom emprego, boas condições de vida e é casado com seu amor da adolescência. O grande problema é que essa vida perfeita desaba depois da descoberta de que Emily (Julianne Moore), sua esposa, está tendo um caso e quer divórcio. Desamparado, Cal conhece Jacob Palmer (Ryan Gosling), um cara que vai ensiná-lo a ter estilo, beber e paquerar mulheres.


Articulando bons momentos de comédia com uma aparente frieza em sua primeira cena, os diretores Ficarra e Requa administram bem o timing das cenas ao retratar tudo com naturalidade e nunca parecendo algo muito forçado – desde o pedido de divórcio na cena inicial até Carell contando para o filho e a babá sobre o divórcio logo quando entra em casa. E o politicamente incorreto e surreal presentes em "O Golpista do Ano", por exemplo, volta a aparecer quando somos apresentados a cenas hilárias, como a de Carell sendo surpreendido no escritório quando seus colegas achavam que ele estava com câncer.


Os dois diretores também são competentes na apresentação de seus personagens, mostrando em primeiro plano Cal como um homem frio e sem amor próprio até o personagem ser aprofundado em relacionamentos vazios, mas que mostram toda sua mudança – fazendo com que o espectador visualize o caminho que Cal está sendo conduzido e de forma bastante verossímil. É igualmente interessante como o personagem de Gosling é apresentado ao de Carell, o zoom de aproximação utilizado pelos diretores mostrando cada detalhe das roupas que Cal utiliza e a incomprenssão de Jacob com esse fato é simples, mas elegante.

Lindo casal, né!?

O roteiro de Fogelman também é surpreendente ao conseguir administrar todas as subtramas da narrativa – com destaque a trama do filho apaixonado que é hilária – e conseguir pegar o espectador de surpresa no ponto de virada para o terceiro ato com uma revelação que não deixa confusos só Cal e Jacob, mas o espectador. As piadas são igualmente bem exploradas pelo roteiro deixando o ar de naturalidade citado. Frases como “Fui ver Crepúsculo e o filme era tão ruim”, as brincadeiras com clichês a partir do segundo ato mostrando Carell na chuva e sentado no bar exclamando “Se é alguma lição de final de filme, não estou entendendo”, ou nos jogos de Gosling,  são sempre bem encaixadas– um bom exemplo é a primeira vez em que Jacob vê a personagem de Stone e brinca com o fato dela ser advogada. Porém, é inegável que o roteiro seria nada sem as atuações impecáveis do talentoso elenco.


Gosling é sublime ao retratar em princípio um sedutor barato, mas que consegue ser “fisgado” (não encontrei palavra melhor) pela personagem de Stone no segundo ato – observe como na cena em que os dois estão no apartamento interagindo, o ator já consegue mostrar um aspecto mais frágil emocionalmente de seu personagem e o quanto que o que ocorre naquele local é diferente de qualquer outra noite para Jacob. Já Carell faz uma das melhores atuações de sua carreira, ao retratar Cal como um personagem perdido e que é naturalmente corrompido por Jacob. Sua reconfiança adquirida também no segundo ato, por exemplo, auxiliada pela ótima montagem, é mostrada de forma genial pelo ator. Ao passo que Jonah Bobo e Analeigh Tipton são boas revelações ao compor verdadeiras almas gêmeas – visto que os dois se apaixonam por pessoas mais velhas.


Equilibrando momentos dramáticos com outros de pura hilaridade, como nas cenas com a personagem de Tomei (quase exagerando no overacting), “Amor a toda Prova” é aquele tipo raro de filme que aparecesse uma vez por ano e que consegue brincar de forma única com os clichês apresentados em tela, fazendo com que o espectador ainda torça para o final feliz. É também natural que a ascensão de Gosling em Hollywood apresente mais filmes explorando o sex appeal e talento do ator – os slow motions mostrando Gosling caminhando ou cenas de sedução representam bem esse caminho –, assim como Emma Stone. Hollywood pode até ter encontrado seus novos pombinhos, mas como é bom quando eles são talentosos...

(4 estrelas em 5)

23 de agosto de 2011

O Homem do Futuro (Brasil, 2011)


“O Homem do Futuro”, novo filme do diretor Claudio Torres, não mostra-se parecido apenas no nome com o filme de Robert Zemeckis, “De Volta para o Futuro”, mas também em temáticas, ações e motivos. O filme de Torres, aliás, é impressionantemente honesto na sua abordagem e surpreendentemente corajoso em seus efeitos especiais, aproximando-se de aspectos hollywoodianos e surgindo quase como uma lembrança e nostálgia de outros tempos.  


Escrito e dirigido por Claudio Torres (o mesmo de “Redentor” e “A Mulher Invisível”), Wagner Moura é Zero, um cientista genial, porém infeliz por seu passado – onde há 20 anos foi humilhado publicamente na faculdade e perdeu o grande amor de sua vida, Helena (Alinne Moraes). É quando, prestes a ser demitido, ele aciona o acelerador de partículas em que está trabalhando e acaba voltando no tempo por acidente, onde se vê diante da chance de alterar o seu futuro.


Estabelecendo seus personagens, diálogos e motivações desde seu primeiro ato, Torres é expositivo no roteiro querendo ser detalhista demais e de forma desnecessária – também apostando em flashbacks deslocados e nada eficientes. Torres consegue manter esse exagero em outras situações do filme, vide a cena em que o juiz pisca para Zero no tribunal. A fotografia de Ricardo Della Rosa é ainda pior ao “estourar” o branco no primeiro ato para mostrar as lembranças do protagonista ao invés de trabalhar apenas em diferenciar os tempos em que Zero está e se são lembranças ou não.


Em contrapartida, Torres utiliza de forma perfeita alguns planos na narrativa, como o de Moura começando a cantar, e consegue fechar todas as subtramas de forma muito eficiente. Enquanto a trilha escolhida por Luca Raele e Maurício Tagliari é, além de nostálgica, brilhantemente encaixada na trama, soando arrepiante. E se no repertório do filme temos desde Legião Urbana até Radiohead, Raele e Tagliari são igualmente competentes na composição da trilha original – administrando tons dramáticos e aventureiros.  


Quem não voltaria no tempo por essa mulher?
Criando três personagens diferentes em vozes, vestimentas e até no jeito de caminhar, Wagner Moura volta a oferecer mais um de seus ótimos trabalhos a trazer particularidades para cada um das versões alternativas de “Zero”. Enquanto o Zero nº 1 (o de 91) é um personagem que parece ter saído direto de uma obra “shakespeariana”, algo que é salientado pelo ator em sua expressão mais apaixonada e quase trágica, Moura investe demais no overacting para criar o Zero nº 2 quase como um cientista maluco. A zona de conforto de Moura é vista quando atua em sua naturalidade habitual em sua versão do futuro alternativo – e é notável a segurança do ator no papel por nunca parecer forçado.


Segurança e conforto que Fernando Ceylão não tem ao criar um personagem totalmente desnecessário e sem sentido na trama. Desde a relação de amizade com Zero que quase nunca é desenvolvida – tirando uma ou outra cena em que tenta proteger o amigo – até a versão alternativa do personagem que só serve para criar uma subtrama a mais no terceiro ato. Ao passo que Alinne Moraes é adorável ao criar uma personagem incrivelmente sexy e apaixonada, melhor, criando um vínculo necessário com o público que torce pelo destino dos dois no final do longa-metragem.


Mostrando como o cinema nacional pode ser corajoso ao sair do senso comum e a variedade de temáticas que pode fornecer, “O Homem do Futuro” consegue ser um sopro forte de inteligencia em um ano fraquíssimo em nosso cinema – com obras desde “A Antropóloga” até “Cilada.com”. E é igualmente notável que se em 2010, com Tropa de Elite 2, Wagner Moura protagonizava o filme nacional do ano, em 2011, com "O Homem do Futuro", ele repete esse feito. "O Homem do Futuro" é nossa ida nostálgica ao passado, nosso aprendizado com os erros e nossa época perdida. Nada mais justo seria se um filme que utiliza versos magníficos da banda Legião Urbana, como “ Temos nosso próprio tempo...” acabasse com outra música poética da banda em versos que definem o clímax final: “... e até lá, vamos viver. Temos muito ainda por fazer, não olhe pra trás, apenas começamos. O mundo começa agora”.

(4 estrelas em 5)

11 de agosto de 2011

A Árvore da Vida (EUA, 2011)

Acima de tudo, um acontecimento histórico!
Uma das melhores coisas que pode acontecer para um crítico de cinema é ele gostar muito de um filme – o que acaba tornando o trabalho fácil e delicioso porque a escrita irá tratar de salientar essa adoração pelo projeto – ou quando o crítico odeia o filme, algo que proporciona o caminho inverso. Porém, é complicadíssimo quando em alguns casos o filme não consegue nos afetar de maneira alguma, nem positiva ou negativa, criando uma espécie de martírio por o filme ser completamente indiferente. “A Árvore da Vida” do diretor Terrence Malick não encaixa-se em nenhum desses casos. O filme é tão instigante, complexo e distinto que o sentimento no final da sessão pode ser igualmente cruel a primeira vez que muitos assistiram “2001 – uma Odisséia no Espaço”, por exemplo, a dúvida de ter amado ou odiado o projeto.


Escrito e dirigido por Terrence Malick, o filme é centrado em uma família dos anos 50 e na relação de pai, esposa e filhos. A narrativa é ambiciosa a fazer um paralelo no passado, presente e futuro do mundo – desde o Big Bang até o fim dos tempos, passando pela era jurássica e a complexidade humana de seus personagens.


Trazendo um clima contemplativo desde o começo da narrativa, Malick já explora em seu primeiro ato o sentimento de perda de um dos seus personagens. É belo e poético ver a câmera elevando-se e representando quase que a alma de Mrs. O'Brien deixando seu corpo junto com a morte de um de seus filhos. Malick ainda gosta de explorar desde o princípio todos os simbolismos que puder utilizar como artifícios, um grande exemplo é a porta do casal semi-aberta – quase que os escondendo para não vermos por completos seus sentimentos.


Igualmente interessante é a forma que o diretor conduz sua narrativa, geralmente utilizando contra-plongées para filmar o homem como se filmasse um Deus em frente de suas construções. Uma grande cena é a que em Sean Penn entra em um dos grandes arranha-céus mostrados no filme, sempre com uma luz forte no alto (talvez representando a graça daquele local) e a câmera trata de focalizar o personagem de baixo pra cima, ou quando Penn está em uma reunião e Malick imediatamente realiza um plano em plongée mostrando Penn olhando para baixo quando vê o resto do mundo – mostrando o homem como o dono de tudo, mais uma vez.


Por outro lado, o fato do filme ser cortado em quase 4 horas, já que a versão pretendida por Malick teria mais de 6 horas de filme, reflete intensamente na narrativa. Montado por cinco diferentes pessoas, a narrativa surge incômoda a todo o momento colocar a queda de uma cachoeira, a grandeza da natureza sendo representado por gigantescas árvores ou rochedos e as cenas sendo repetidas diversas e diversas vezes. Em contrapartida, o trabalho realizado no espaço sempre surge como algo fascinante, chegando ao ápice em uma das cenas mais poéticas e sublimes da carreira do diretor: a dança dos astros (quase como uma homenagem ao filme de Kubrick).


Complementando cada momento da obra de Malick, Desplat demonstra mais uma vez sua genialidade nas concepções para trilhas sonoras – aqui investindo em composições igualmente contemplativas ao filme e por vezes dando climas mais soturnos a trama. Ao passo que a fotografia de Emmanuel Lubezki oferece um realismo impressionante e quase inimaginável em alguns momentos.


Criando seu personagem como uma figura complexa em que sua aspereza é intercalada com sua paixão pelos filhos, Brad Pitt aparece como o destaque do filme. Se por momentos o personagem de Pitt surge como uma figura autoritária em sua casa e repreendendo atitudes de seus filhos, por outro lado sua devoção aos filhos e o desejo que seus filhos sejam ainda melhores que ele sempre ficam subentendidas na trama. É tocante ver Pitt reconhecendo seus erros como pai em uma cena e o pequeno Jack – que antes chegava a desejar a morte do pai – abraçando-o como se tudo tivesse sido perdoado por aquele único momento; ou em cenas mínimas, como quando Pitt pede para seu filho alcançar o isqueiro com a rudeza de sempre, mas logo depois pergunta para seu filho se ele o ama – demonstrando sua carência por amor, por trás do jeito enérgico.


Surgindo como um contraponto de seu marido, Jessica Chastain é um verdadeiro achado no filme por conferir um aspecto maternal tocante em sua personagem e, sobretudo, uma paixão igualmente comovente pela natureza – um sentimento compartilhado pelos filhos. É comum que Mrs. O'Brien surja sempre brincando com seus filhos na grama, banhando-se nas mangueiras de jardim ou apenas embarcando em brincadeiras simples com seus filhos – algo que é sempre bem mostrado por Malick, com diversão nas mínimas coisas: pega-pega, telefone sem fio, futebol com lata de tinta, etc. Ao passo que Sean Penn é o único que aparece deslocado na trama.


Sendo apenas um pouco confuso em seu clímax final, Malick conduz uma experiência quase que religiosa em uma espécie de missa contemplativa para a natureza e redenção divina. A confusão inicia (e isso pode ser apenas pensamento meu) em momentos em que na narrativa os próprios homens são tratados como os Deuses (talvez desse mundo?). Cenas como o materialismo sobrepondo-se a natureza e homens andando sobre as águas, mas ao mesmo tempo as portas do paraíso sendo abertas me transpareceram mensagens conflitantes. A comparação com 2001 é válida em determinados momentos, alguns parecendo homenagens (na cena da lua com o sol nascendo só faltou a trilha do filme) e o preciosismo de Malick com relação ao filme acaba sendo uma ferramenta de comparação ainda maior. Certamente o filme não será unanimidade e desconfio de suas chances ao Oscar, mas em determinados momentos o mais importante não são indicações ou não, premiações ou não, por vezes é importante apenas sabermos que presenciamos algo histórico. E isso... é inegável!


(4 estrelas em 5)

10 de agosto de 2011

Super 8 (EUA, 2011)

Quer algo mais retrô e nostálgico que isso?
Nasci em 1989. Infelizmente nunca passei pelas experiências cinematográficas aventureiras, ingênuas e prazerosas que eram os Gonnies de Richard Donner, os Gremlins de Joe Dante, a jornada dos quatro amigos de Conta Comigo e muito menos pude conferir no cinema o ET de Spielberg. Meu primeiro olhar sobre as obras foram no auge dos meus doze anos – curiosamente, a idade dos protagonistas dos maravilhosos filmes. É, portanto, totalmente proposital que Abrams, em parceria com Spielberg, queira retomar esse antigo gênero que consagrou muitos cineastas, através da ingenuidade e magia, um gênero que parecia perdido voltar a aparecer nas telas reconquistando gerações. Talvez o único problema de Abrams em Super 8 seja o excesso, criando por vezes uma obra que parece ser feita unicamente para resgatar essa essência e não aprofundar-se na história ou na aventura em si.


Escrita e dirigida pelo próprio J.J. Abrams, a história se passa no verão de 1979, quando um grupo de seis garotos, em uma cidade industrial de Ohio, testemunha uma catastrófica colisão noturna de um caminhão com um trem de carga. Eles conseguem registrar tudo com uma câmera Super 8 com a qual tentavam fazer um filme. Depois de a chegada militar, não tarda para que os seis amigos comecem a desconfiar que aquilo não fosse um acidente. Principalmente quando misteriosos desaparecimentos começam a acontecer e o exército tenta encobrir a verdade - algo muito mais terrível e improvável do que eles poderiam imaginar.


Estabelecendo um clima infantil e mágico desde o começo do longa-metragem, Abrams é inteligentíssimo ao não apenas retratar os seus personagens em momentos de aventura ou ação, mas estabelecê-los como personagens emocionalmente frágeis e curiosos. Portanto, é uma atitude sábia e bem pensada que o filme tenha início no velório da mãe de um personagem, mostrando desde seu princípio o sofrimento de Joe e as conseqüências que os personagens passarão a sofrer com todo o incidente.


Abrams é igualmente sutil e elegante ao mostrar em formas cuidadosas os sentimentos de cada um de seus personagens ou da cidade em cima da tragédia (inclusive brincando em alguns momentos com ambientes históricos – a citação de uma mãe com medo da invasão comunista não deixa de ser hilária). O diretor acerta desde a contemplação de sua cena inicial, em que vemos uma placa indicando tantos dias desde o último acidente até um trabalhador mudar a placa para apenas um, quanto para as particularidades e essências de cada um dos seis personagens principais. Um grande exemplo é na cena em que Alice e Joe trocam olhares pela primeira vez – se ela afirma “Ele não pode ir, ele é o filho do policial”, chega a ser surpreendente e apaixonante a reação do pequeno Joe ao responder “Você sabia?!”.


Igualmente competente é a fotografia de Larry Fong (mais familiarizado com trabalhos “Snydernianos”) que interessantemente deixa um flash de luz azul quase como um riscado em tela para um final grandioso e retratando de forma excelente os seis amigos em meio ao ambiente que estão. Ao passo que a trilha sonora do excelente Michael Giacchino consegue trazer etapas de dor, sofrimento e contemplação no primeiro ato, o clima aventureiro mais presente no segundo ato e, finalmente, o ar nostálgico que estamos acostumados em obras “Spielberganas” (mais uma vez, não deixa de ser cômico a trilha celebrando o clímax final em meio a inúmeros desastres).


Em contrapartida, a visão puritana de Abrams em torno do filme acaba prejudicando o gigantesco potencial da obra ao incluir cenas como a subtrama dos personagens de Kyle Chandler e Ron Eldard que o máximo que consegue evocar no público é vergonha. Ou algumas cenas que não acrescentam em nada, mas são jogadas na tela para apenas esticar o longa ou acrescentar alguma nova subtrama – por exemplo, a única finalidade que uma cena como a do Dr. Woodward sendo “cuidado” pelos militares poderia significar é que estávamos diante de um vilão cartunesco e patético.


Criando Joe Lamb com verdadeira determinação, curiosidade e destreza, apesar de emotivo, Joel Courtney é um verdadeiro achado na trama de Abrams ao resgatar justamente a essência que o diretor procurava. Se em um momento temos o personagem de Courtney confrontando o pai ao querer fazer suas próprias escolhas; em outro, o seu olhar não esconde a mágoa que guarda ao ver seu pai saindo para ajudar dezenas de pessoas, mas não ajudando o que seria mais importante naquele momento: seu próprio filho. É igualmente tocante ver o olhar de Courtney sempre choroso e curioso ao que está acontecendo ao seu redor. Já Elle Fanning é igualmente interessante ao criar sua personagem determinada ao tentar fugir de seu passado desde o principio e buscar algum consolo ou sentimento em Joe. Fanning ainda mostra-se talentosa na maioria das situações emocionais, lembrando um pouco a excelente Chloe Moretz no igualmente impressionante “Deixe-me entrar”.


Ainda que Abrams peque de maneira desconcertante em tentar transformar o filme sempre em algo nostálgico e ingênuo, o fato é que as qualidades do filme são curiosamente as mesmas. Super 8 tem o “q” de Goonies, Stand By Me, Contatos Imediatos de 3º Grau, E.T e realmente nasceu com o propósito de ser um longa feito para uma geração. Sua paixão, inteligência e sutileza são aspectos raros em obras do gênero. “Nunca vi um professor armado”, “Parece filme de desastre” e “se está no noticiário é real” são apenas algumas das frases que oferecem esse ar inocente e cuidadoso na obra de Abrams. Em uma das melhores cenas do filme, os seis amigos estão filmando a personagem Alice às lagrimas, na famosa câmera Super 8 , quando esta indaga depois da cena feita: “ficou bom?”. Sem resposta, os amigos com lágrimas nos olhos não conseguem balbuciar mais do que uma ou duas palavras. Talvez esse seja uma grande exemplificação para o público no final da sessão de Super 8: por vezes, a emoção sobrepõe-se a qualquer coisa.


(4 estrelas em 5)

8 de agosto de 2011

OS CEM MELHORES EPISÓDIOS DE SERIADOS:


Depois do sucesso da minha lista de melhores seriados de todos os tempos, fiquei completamente alucinado, entrei em colapso nervoso e decidi fazer a lista dos CEM MELHORES EPISÓDIOS DE SERIADOS. Foge completamente da palpável lista de melhores seriados, mas não deixa ser interessante ver como minha cabeça funciona – algo que tento descobrir até hoje. Nas duas últimas semanas entrei em uma maratona para rever meus episódios favoritos e algumas indicações para fechar a minha lista.

Vamos para as considerações e esclarecimentos:


(1) A lista é formada por episódios que me deixaram em êxtase na primeira vez que eu os assisti e podem ser vistos quantas vezes quisermos, sem perder a essência ou inteligência. São episódios atemporais – um dos motivos que Além da Imaginação não entrou, alguns dos meus episódios favoritos da série simplesmente não sobreviveram nesses mais de quarenta anos.

(2) Diferentemente da lista de melhores seriados, os melhores episódios obviamente contaram com séries em andamento. Séries que antes não apareceram por aqui estão presentes na nova lista e podem esclarecer mais meu gosto em seriados.

(3) Trata-se de uma lista estritamente PESSOAL. Não fiz nenhum estudo ou pesquisa para fazer a lista. São episódios que assisti por completo e sem ajuda de outras ferramentas de pesquisa. Portanto, se você nunca concorda com minhas análises ou opinião fique a vontade para desconsiderar a lista por completo.

(4) Como somos assolados por novas produções todos os anos e algumas das séries listadas ainda encontram-se em andamento, além de outros seriados que ainda não conferi, a lista pode mudar a cada mês. Resumindo: não se trata de algo oficial e que nunca mudará.

Dito isso,


OS CEM MELHORES EPISÓDIOS DE SERIADOS (os episódios acrescentados estão em azul):


1. Two Cathedrals (#2.22) – The West Wing

2. Everyone's Waiting (#5.12) – Six Feet Under

3. Blink (#3.10) – Doctor Who

4. Hello, Dexter Morgan & The Getaway (#4.11 & #4.12) – Dexter

5. Love's Labor Lost (#1.19) – E.R, Plantão Médico

6. Existence (#8.21) – Arquivo X

7. House's Head. Wilson 's Heart. (#4.15 & #4.16) – House

8. Great Game (#1.03) – Sherlock

9. Doubt (#6.8) – Law & Order: SVU

10. The City on the Edge of Forever (#1.28) – Jornada nas Estrelas

11. Crawl Space (#4.11) – Breaking Bad

12. Trilogia: What Kind of Day Has It Been, In the Shadow of Two Gunmen: Part I & 2 (#1.22, #2.01 & #2.02) – The West Wing

13. The Spanish Inquisition (#2.2) – Monty Python's Flying Circus

14. Modern Warfare (#1.23) – Community 

15. Almost Got 'im (#1.35) – Batman

16. The Playbook (#5.8) – How I Met Your Mother

17. Pilot & The Cold Open (#1.1 & #1.2) – Studio 60 on the Sunset Strip

18. The One with the Blackout (#1.7) – Friends

19. The Best Chrismukkah Ever (#1.13) – The O.C 

20. Pilot (#1.1) – Twin Peaks

21. Riots, Drills and the Devil: Part 1 (#1.6) – Prison Break

22. Pilot (#1.01 & 1.02) – Lost

23. Homecoming (#10.4) – Smallville 

24. Quentin Costa (#3.15) – Nip/Tuck 

25. Changing Channels (#5.8) – Supernatural 

26. A Shift in the Night (#2.18) – ER, Plantão Médico

27. Pilot (#1.1) – A Sete Palmos

28. The Contest (#4.11) – Seinfeld

29. Pilot (#1.1) – Dawson´s Creek

30. Sanctuary & Death and All His Friends (#6.23 & #6.24) – Grey´s Anatomy

31. The Apartment (#3.8) – Californication

32. Once More, with Feeling (#6.7) – Buffy, A Caça Vampiros 

33. Aftershock (#6.23) – Lei & Ordem

34. A Scandal in Belgravia (#2.1) – Sherlock

35. Anasazi (#2.25) – Arquivo X

36. Doomsday (#2.13) – Doctor Who

37. Authority (#9.17) – Law & Order: Special Victims Unit

38. Episode #2.9 (#2.9) – Twin Peaks

39. Walnuts and Demerol (#4.11) – Two and a Half Men

40. The One with the Embryos (#4.12) – Friends


41. Spring Dance (#1.20) – Barrados no Baile

42. Exodus: Part 1 & Exodus: Part 2 (#1.23 .24) – Lost

43. The Girl in the Fireplace (#2.4) – Doctor Who

44. What Kind of Day Has It Been (#1.22) – Studio 60 on the Sunset Strip

45. 24 Hours & Day One (#1.1 & #1.2) – ER, Plantão Médico

46. The Marine Biologist (#5.14) – Seinfeld

47. Episode #1.14 (#1.14) – Whose Line Is It Anyway? 

48. The Soup Nazi (#7.06) – Seinfeld

49. Give a Little Bit (#6.12) – Entourage

50. The Reichenbach Fall (#2.3) – Sherlock 


51. Slap Bet (#2.9) – How I Met Your Mother

52. Goodbye (#3.20) – Anos Incriveis

53. Remedial Chaos Theory (#3.4) – Community

54. Live Together, Die Alone (#2.23) – Lost

55. All Alone (#5.10) – A Sete Palmos 

56. Kalends of February (#1.12) – Roma 

57. Silence in the Library & Forest of the Dead (#4.8 & #4.9) – Doctor Who

58. Clyde Bruckman's Final Repose (#3.4) – Arquivo X

59. Three Stories (#1.21) – House 

60. Pilot (#1.1) – Nip/Tuck 

61. The Erlenmeyer Flask (#1.23) – Arquivo X

62. Gotta Look Up to Get Down (#5.7) – Entourage

63. Go (#1.21) – Prison Break 

64. Pilot & Deep Throat (#1.0 & #1.1) – Arquivo X 

65. Joan Rivers (#2.16) – Nip/Tuck

66. There's More Than One of Everything (#1.20) – Fringe

67. L.D.S.K. (#1.6) – Criminal Minds

68. Full Measure (#3.13) – Breaking Bad

69. Baelor (#1.9) – Game of Thrones

70. Free Fall & The One (#1.21 & #1.22) – Ghost Whisperer

71. The Bath Item Gift Hypothesis (#2.11) – The Big Bang Theory

72. Home (#1.7) – Boardwalk Empire

73. Losing My Religion (#2.27) – Grey´s Anatomy

74. Trial (#2.9) – Batman 

75. Halloween (#2.6) – Buffy, A Caça Vampiros

76. The Bicycle Thief (#1.2) – Modern Family

77. Days Gone Bye (#1.1) – The Walking Dead

78. Exodus (#4.15) – ER, Plantão Médico 

79. The One with All the Poker (#1.18) – Friends


80. Number Crunch (#1.10) – Person of Interest

81. A Game of Checkers (#1.8) – OZ

82. A New Hope (#1.20) – That '70s Show

83. The One with Chandler in a Box (#4.8) – Friends


84. Pilot (#1.1) – Anos Incriveis

85. Duckling (#2.11) – Louie

86. Face Off (#4.13) – Breaking Bad

87. Dalek (#1.6) – Doctor Who

88. Not Fade Away (#5.22) – Angel 

89. Chuck Versus the Ring (#2.22) – Chuck 

90. Blood Drops (#1.7) – CSI

91. Points (#1.10) – Band of Brothers 

92. Déjà Vu All Over Again (#1.22) – Charmed

93. Manhunt (#2.18) – Law & Order: Special Victims Unit


94. An American Girl in Paris: Part Deux (#6.20) – Sex and the City

95. You Only Move Twice (#8.2) – Os Simpsons

96. Battles (#1.4) – Spaced

97. The Good, the Bad and the Cursed (#3.14) – Charmed 

98. The Scene (#1.7) – Entourage

99. 11:00 p.m.-12:00 a.m. (#1.24) – 24 horas

100. Pilot (#1.1) – The 4400



Obs: Lista atualizada em 24/02/2012